Licença de Itataia gera debate

7/5/2010

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João Gomes, de 71 anos, nasceu na área da jazida e não teme radiação
ANTÔNIO CARLOS ALVES

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Francisco Paiva Filho, de 72 anos, é favorável ao empreendimento na região

Em 6 de junho, Semace, Ibama, MPF e consórcio vão discutir o impasse ante a licença ambiental do projeto

Ainda em fase final de tramitação na 18ª Vara Federal, em Sobral, o impasse sobre o órgão que será responsável pela liberação da licença ambiental da Usina de Itataia - entre Semace (Superintendência Estadual do Meio Ambiente) e Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente) - será tema de uma audiência pública no próximo dia 8 de junho, em Santa Quitéria. Na sessão, participarão membros do Ibama, Semace, Ministério Público Federal e Estadual, diretores das empresas INB (Indústrias Nucleares do Brasil) e Galvani S/A, Câmara Municipal, Prefeitura, Igreja e Organizações Não-governamentais para discutir a questão.

Ontem, a comunidade de Riacho das Pedras (a 42 quilômetros de Santa Quitéria) sediou seminário para discutir as potencialidades e os impactos ambientais da maior jazida de urânio do Brasil, a Mina de Itataia. O evento foi uma realização da Cáritas Diocesana de Sobral. De acordo com o coordenador do seminário, José Maria Gomes Vasconcelos o objetivo foi debater com a sociedade civil, poder público e população as potencialidades e os impactos que poderão ser causados com o funcionamento da jazida. "Nossa preocupação aumenta também com a situação de risco que passam a ter as famílias que moram no entorno do empreendimento, porque Riacho das Pedras é o miolo da coisa. Precisamos qualificar as informações´´, disse.

Representantes do consórcio INB e Galvani, ao apresentarem o plano de desenvolvimento da área, informaram que serão gastos US$ 350 milhões para a retirada de 240 mil toneladas de rocha fosfática por ano, além de 1.400 toneladas de urânio. Mônica Bacchiega, da Galvani, disse que a empresa tem todo um projeto a ser implantado em Santa Quitéria.

"As iniciativas sociais que desenvolvemos em Paulínia, em São Paulo, e Luís Eduardo Magalhães, na Bahia, e em São Paulo, capital, também virão para a população que mora na área da jazida. Teremos ainda um trabalho de preservação da fauna e da flora´´, explicou Bacchiega.

Já Alecsandra Barreto, da INB, afirmou que a Comissão Nacional de Energia Nuclear, o Ibama, a Semace e o governo municipal, que irá autorizar o uso do solo e subsolo, já foram informados do projeto de meio ambiente que a empresa trabalha nos aspectos sócio econômico. "Temos um programa de monitoração ambiental, educação ambiental, segurança, proteção radiológica, plano de emergências, proteção contra incêndios e resíduos e rejeitos. Ninguém vai precisar sair dos locais onde moram, principalmente quem reside em Morrinhos e Lagoa do Mato", afirmou.

Entretanto, o padre Ricardo Cornyall afirmou ser contra o projeto e lembrou que a exploração da jazida é um grande perigo para a nação.

"Esse material radioativo vai ser levado pelos ventos´´, avisa, e ao mesmo tempo pergunta: "por que morre tanta gente de câncer na região"?

A professora Jeanny Fiuza Costa Freitas, da Tramas - UFC, mostrou documento o qual afirma que na Bahia já existem problemas na operação da jazida de Caetité. "Espero que as pessoas da região pensem no futuro de suas famílias daqui ha 20 anos, não pensem somente no presente. Estou disposta a sentar para conversar", expressou. Ela questionou também se o sistema de saúde do município está preparado para atender a possíveis acidentes nucleares. No calor das discussões, Éricka Farias, coordenadora de meio ambiente de Santa Quitéria, falou que é preciso as pessoas participarem de debates desse nível, mas que tragam propostas e não somente denuncias infundadas. "É fácil agir dessa forma, o difícil é trazer ideias que venham a solucionar de vez a questão da exploração da jazida´´, referindo-se a afirmações de que a exploração será feita em Santa Quitéria, mas que os investimentos serão realizados fora da região. De acordo com o coordenador da jazida, serão necessários 25 anos para explorar toda a riqueza mineral existente nos 1.400 metros de comprimento e 400 metros de largura da área. A INB tem uma propriedade com 4.500 hectares.

Fonte --> https://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=781305