Núcleo de pesquisa dos agrotóxicos é homenageado em Fortaleza

03/06/2010 19:18

 

2 de junho de 2010

 

Comunicação MST-CE

 O Núcleo Trabalho, Meio Ambiente e Saúde para a Sustentabilidade (Tramas) foi homenageado com a Medalha Ambientalista Chico Mendes, pela Câmara Municipal de Fortaleza, nesta terça-feira, dia 1° de junho.

O Núcleo Tramas é coordenado pela médica e professora Raquel Maria Rigotto, do Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC).

O núcleo foi criado em 1996 e funciona em articulação com outros departamentos acadêmicos da UFC, de outras universidades e com os movimentos sociais.

O núcleo ficou conhecido pela pesquisa realizada a pedido do Ministério Público do Estado do Ceará para apurar as denúncias de contaminação do ambiente e da saúde da população pela empresa produtora de agrotóxicos chamada de Nufarm, na região da grande Fortaleza.

Além disso, o grupo faz um amplo projeto de pesquisa na região da Chapada do Apodi. São dois anos de estudo epidemiológico da população da região do Baixo Jaguaribe exposta à contaminação ambiental em área de uso de agrotóxicos utilizados por empresas de fruticultura irrigada.

Outro trabalho desenvolvido pelo grupo é a analise sobre as implicações socioambientais da cacinicultura para a saúde humana também na região do Baixo Jaguaribe. 

Essas pesquisas ganharam notoriedade em todo o país pela constatação, envolvendo o modelo de desenvolvimento baseado no agronegocio, que tem causado graves problemas sócio-ambientais e de saúde da população cearense, como o aumento de casos de câncer e mortes por intoxicação de agrotóxicos no município de Limoeiro do Norte.
   

Manifestação da Profa. Raquel Rigotto, em nome do Núcleo Tramas/UFC, na entrega da Medalha Ambientalista Chico Mendes

Estando numa Universidade Pública,

Não nos colocamos a serviço do capital, oferecendo ciência para a ampliação da exploração da Natureza e dos seres humanos que trabalham. Buscamos construir uma ciência... 

  •  que vá ao mundo vivido recolher seus objetos de estudo, a partir das lentes da sensibilidade engajada, ao encontro daqueles que sofrem,  dos grupos humanos e classes sociais mais  vulneráveis;
  •  que reaprenda a ouvir, com respeito profundo e humildade, os saberes construídos em longa linha do tempo por povos indígenas, afro-descendentes ou comunidades tradicionais;
  •   que atente para a complexidade dos dramas de nossas sociedades contemporâneas, e saiba pedir ajuda a outros campos de saber para aproximar-se de compreendê-los;
  •  que reconheça a ancestral interdependência entre todos os seres vivos e a Natureza, e opte radicalmente pela solidariedade como base para a evolução da vida;
  •  que escolha suas fontes de financiamento considerando a indispensável autonomia na produção de conhecimentos;
  •  que parta de bases epistemológicas renovadas e avance também na construção inventiva dos caminhos metodológicos, criando novos processos de trabalho em pesquisa, capazes de dar conta de apreender as diferentes dimensões, as inter-relações, as nuances e as sementes de futuro, no que Boaventura dos Santos chamou de hermenêutica da emergência;
  •  que nunca abra mão de retornar aos sujeitos da pesquisa para apresentar e validar ou não seus resultados, devolvendo a eles a matéria-prima ofertada em forma compatível com sua apropriação;
  •  que cuide de plantar no coração das novas gerações de pesquisadores o fogo da utopia, o vento bravo do compromisso com os desempoderados e invisibilizados de nosso tempo, a radicalidade da coerência e da ética.

É o que nós, do Núcleo Tramas, como outros professores e pesquisadores desta e de outras universidades, estamos tentando alcançar. O reconhecimento de vocês é um caloroso estímulo para a gente não fraquejar. Muito obrigada! 

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